Bruscky em consagração internacional
Em cartão postal ou museu, a obra de Paulo Bruscky já rodou o mundo. A relação do artista pernambucano com o território internacional é tão intrínseca à sua trajetória que soa lugar-comum falar a respeito de sua participação numa mostra fora do País. Mesmo assim, o reconhecimento com passaporte carimbado é algo bem recente na carreira de Bruscky, ainda marginalizado na história da arte. E este é um ano bem sintomático nesse sentido. Além de ter sido convidado para participar da Bienal do Mercosul, em Porto Alegre, ele será o único brasileiro a ganhar uma sala especial na Bienal de Havana, evento de peso no cenário latino-americano de artes visuais. “É de fato um movimento de consolidação da carreira de Paulo internacionalmente”, reafirma Cristiana Tejo, curadora do projeto expositivo da sala, cuja abertura está marcada para 28 de abril. Uma galeria inserida numa biblioteca da cidade cubana foi o espaço oferecido pelos organizadores da grande mostra para abrigar as obras do artista – cerca de 150 ao todo. O espaço vem a calhar com a própria poética de Bruscky, um obcecado por arquivar tudo que encontra pela frente. Diferente do que aconteceu em 2004, durante a Bienal de São Paulo, na qual ele também teve uma sala especial, o ambiente vai ser composto por obras de várias épocas, cujo diálogo se dá numa lógica de retrospectiva. Aliás, menor somente que a realizada pelo MAC-USP, na capital paulista. “A proposta é diferente da Bienal de São Paulo, porque lá foi só o meu ateliê. Desnudaram o meu processo criativo. Em Cuba, só os trabalhos serão mostrados”, compara o artista, que prefere não ligar muito para essa história de reconhecimento nacional ou internacional. Com projeto cenográfico de Eduardo Souza, a exposição será montada no local em formato de “u”, com uma vitrine na frente. Dois documentários sobre vida e obra de Bruscky (da Globo News e TV Cultura), autorretratos, postais de arte correio, trabalhos de poesia visual, intervenções sonoras e filmes de artista estão entre os trabalhos a serem expostos na sala especial. Alguns inéditos ainda estão sendo feitos em seu ateliê. Além dele, mais 11 nomes brasileiros vão participar da Bienal de Havana, incluindo o pernambucano José Paulo. No entanto, só Bruscky tem espaço exclusivo, ao lado de oito nomes de fora. O privilégio está garantindo não só a sua ida, mas de toda a equipe de sua exposição para a ilha. Por ser convidado de honra, os governos brasileiro e pernambucano toparam arcar com um custo de R$ 240 mil, já que o País anfitrião só dá o espaço e a viagem de volta das obras. O valor inclui, por exemplo, transporte de todo o material da mostra, do martelo aos aparelhos eletrônicos, difíceis de serem conseguidos em Cuba. Em contrapartida, o artista vai realizar ação no 47º Salão de Artes Plásticas de Pernambuco, no segundo semestre. Esta não é a primeira vez que Bruscky expõe na Bienal de Havana. Aliás, quando participou, à distância, da primeira edição do evento, sua obra Teste poético ficou embargada na saída da ilha durante três anos, porque o Brasil não mantinha relações diplomáticas com Cuba. O tal álbum não vai estar nessa mostra, porque, segundo ele, estava muito ligado ao contexto brasileiro de ditadura. “Hoje não faz sentido expor”, diz. Mas a veia política está presente até como uma preocupação curatorial. A censura ficou bem longe desta vez. “Onde há censura eu não entro”, avisa o artista.