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Nossa Aposta - William Paiva



"Dá impressão de que ele praticou pingue-pongue escondido durante anos e só foi jogar com a turma quando, além de já dominar plenamente a técnica, também tinha o que ensinar." Substitua as raquetes de tênis de mesa por lápis, papel, computador e sintetizadores, e o personagem que surge é o animador pernambucano William Paiva, segundo a curiosa descrição de Marcelo Marão, fundador da Associação Brasileira de Cinema de Animação. Recifense de 34 anos, com apenas três de carreira, William conquistou prêmios no Cine PE e no Granimado, dois importantes festivais do país, assim que lançou seu primeiro curta, O Jumento Santo e a Cidade que Se Acabou antes de Começar. O filme, bem-humorado, se inspira no imaginário e na iconografia da literatura de cordel — um universo até então pouco explorado pelos animadores brasileiros — e atraiu mais de 25 mil visitas no YouTube. Agora, o artista está desenhando o storyboard de seu terceiro trabalho, Roda Gigante, que tratará de infância e da relação entre pais e filhos. Foi em 2006 que William recebeu um convite das Faculdades Integradas Barros Melo, de Olinda, para coordenar o estúdio de animação mantido pela instituição. Até aquele momento, ele estudara programação visual e ganhava a vida como professor de inglês, músico, diretor de arte em agência de publicidade e produtor de discos de bandas como Mombojó e Volver. Tão logo aceitou a oferta, passou a dividir seu tempo entre o estúdio de música e o da Barros Melo, onde acabou fazendo seu filme de estreia. Codirigido por Leonardo Domingues, O Jumento Santo narra a história de um protótipo de mundo criado por Deus, a cidade Noite Feliz. A produção de 11 minutos levou seis meses para ficar pronta e arrancou gargalhadas de cerca de 3 mil pessoas na abertura do Festival Audiovisual do Recife, o Cine PE, em abril de 2007. Faturou, de uma só vez, os prêmios de melhor vídeo, melhor roteiro, melhor direção e o da crítica. O rebuliço se deu também no Granimado 2008, o Festival de Animação de Gramado (RS), mais de um ano depois do Cine PE. "O filme venceu novos prêmios e ficou muito popular. Foi uma coisa bem doida", relembra William. "Algumas pessoas tinham O Jumento Santo no iPod, outras vinham falar comigo usando frases do curta, inclusive com o sotaque nordestino do narrador." Ele espera que as portas abertas por O Jumento Santo facilitem a chegada aos festivais de sua segunda animação, Voltage. No filme de 2007, com pouco mais de quatro minutos, 8 mil desenhos do artista plástico Felippe Lyra mostram seres metade humanos, metade sintetizadores, que se relacionam por meio de fios e constroem uma música. A trilha sonora do curta ficou por conta de William e Leonardo Domingues, que já haviam composto a música de O Jumento Santo. "Voltage parece ter dez anos de distância do anterior, de tanta experiência acumulada: não só em maturidade técnica, mas principalmente na busca de uma estrutura narrativa diferente e de um novo design de personagens", elogia Marão, que também leciona na pós-graduação do curso de animação da PUC-RJ. O professor explica que, em lugares afastados do eixo Rio-São Paulo, onde se concentra boa parte dos animadores, é difícil ver evoluções tão grandes em tão pouco tempo, pelo isolamento. Ele completa: "William está em um lugar que, há uma década, buscava referências pelo país e pelo mundo. Hoje, já pode competir de igual para igual com qualquer profissional do Brasil ou do exterior".

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