O invento que só falta falar
Você sabe viver sem telefone? Provavelmente ninguém sabe. A culpa é do escocês Alexander Graham Bell, então radicado nos Estados Unidos, que, em 1876, criou um instrumento capaz de realizar uma transmissão por voz, quando o mais próximo disso era o telégrafo. No ano seguinte, a invenção chega ao Brasil, depois que o então imperador Dom Pedro II conhece o trabalho de Bell em uma feira da Filadélfia. Fomos, aliás, um dos primeiros países no mundo a implantar a telefonia. Do invento de Graham Bell, passando pelo telefone a manivela, a magneto, com bateria central, automático, telefone público, às variações de modelos dos anos 50 aos 80 até a chegada dos celulares, na década de 90, parece que foi um pulo. E quanta evolução tecnológica! Hoje, quase que a cada mês surge uma novidade na telefonia móvel - mensagens de texto, voz, imagens, câmeras fotográficas embutidas - eles só faltam falar por nós! Nesta matéria da série Os Inventores conheça mais sobre esse revolucionário invento. No próximo domingo, desvendaremos a história e a evolução do avião. À época, estavam em disputa três gênios para inventar um aparelho que propagasse a voz, facilitando a comunicação até então instrumentada pelo telégrafo. O escocês Alexander Graham Bell, que vivia em terras norteamericanas o engenheiro americano Elisha Gray, especialista em eletricidade, e o também americano Thomas Alva Edison, o inventor da lâmpada elétrica, estavam trabalhando em projetos que mais tarde poderiam ser o primeiro telefone da história. Sorte de Graham Bell, que, com a ajuda de seu assistente Thomas Watson na criação, patenteou o invento, em 1876, apenas 30 minutos antes que Elisha Gray. Mas, antes de contarmos o fim, voltemos ao início desse processo. O ex-operador de telégrafo Thomas Edison criou um aparelho registrador de números e letras para mensagens telegráficas para não ter de ouvir os sinais em código morse o tempo todo. Foi demitido da empresa, atestado como preguiçoso. Nos idos de 1870, desenvolveu um meio de enviar duas e, depois, quatro mensagens simultâneas em um mesmo cabo. Edison foi a primeira pessoa a registrar sons por meios mecânicos e conseguir reproduzi-los, 17 anos antes de ele inventar o fonógrafo que, posteriormente, evoluiria para o gramofone. E esse movimento foi um dos que impulsionou a criação do telefone. Entre 1873 e 1874, o objetivo de Alexander Graham Bell era criar um instrumento capaz de enviar notas musicais através da eletricidade. O escocês acreditava que, conseguindo tal feito, também seria capaz de transmitir a voz das pessoas. E queria um pouco mais. O intuito era fazer mais de uma transmissão ao mesmo tempo. O cientista alemão Hermann von Helmholtz acreditou nas ambiciosas ideias de Graham Bell, enxergando ser possível sintetizar sons articulados a partir de notas musicais, usadas para enviar diferentes mensagens telegráficas ao mesmo tempo e por um único fio. Um dos maiores concorrentes do escocês entendia que, usando frequências distintas, seria possível transmitir entre 30 e 40 mensagens simultaneamente, a partir de uma única linha telegráfica, substituindo as inúmeras linhas existentes entre as cidades. Empenhado em um aparelho semelhante ao de Bell, Elisha Gray só não encontrou importantes parceiros financeiros como seu adversário na corrida intelectual, que teve o apoio do comerciante de couro Thomas Sanders e do advogado e empresário bem-sucedido Gardiner Greene Hubbard. Engenheiro eletricista com habilitação em telecomunicações, formado pela Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e doutor em Engenharia Elétrica pela Universidade de Campinas (SP), o professor das Faculdades Integradas Barros Melo (Aeso) Edison Albuquerque interpreta que, nesse momento, todo mundo estava pensando na criação de algo como o telefone. "Já havia o telégrafo, mas, para fazer a voz era preciso um sinal que variasse de maneira análoga, semelhante, entre a corrente elétrica e os sons. Daí o que se pensou foi uma caixa com um diafragma, que vibrava, funcionando como um transdutor, convertendo a energia mecânica da voz no ar em energia elétrica no fio", explicou.
