Clipagens

Sobre o Microfonia



AUMENTA ISSO AÍ - ESPECIAL MICROFONIA 2008 /// Em festa concorrida em Recife, foi escolhida, há alguns dias, na boate Nox, em Boa Viagem, a banda campeã da 3°edição do Microfonia, evento promovido pelas Faculdades Integradas Barros Melo (AESO) em parceria com a Astronave, faturando R$ 3 mil, participação no Abril Pro Rock 2009 e um videoclipe. Após a apresentação dos grupos, que tocaram três músicas autorais e uma cover, os jurados anunciaram a vencedora. - Sobre a avaliação, o tempo de apresentação das bandas finalistas foi de 30 minutos. A Comissão julgadora esteve atenta aos seguintes itens: originalidade, letra, arranjo, interpretação e potencial de inserção no mercado fonográfico. A COMUNA, banda new-hippie do jeito que é, subiu ao palco usando camisetas do programa de TV Ídolos, o que introduziu um tom de deboche à situação de estar sendo julgada. O repertório do show para a final do Microfonia 2008 foi baseado em números autênticos, numa linha jazz-tropicalista, vide Tom Zé e Mutantes. No mais, é difícil de imaginar uma banda como essa tocando no APR. Inseriram os caras na final só pra ninguém dizer que o festival não é “para todos”. Como prova do deslocamento, encerraram a apresentação com a bagunçada “Bonde da Orgia de Traveco” da banda UDR 666, que não era do conhecimento dos jurados. Uma espécie de Carnaval fora de época que levou o quinteto ao quarto lugar. /// Em seguida foi a vez do VOYEUR, trio liderado pela (quase) veterana Ju Orange. Uma definição para o som? Dançante à beça. Pitadas de CSS, algumas paradas totalmente “fakes” que lembram New Rave Kids On The Blocks, um pouquinho de Gossip, Vive La Fete e, conseqüentemente, aquelas batidinhas manjadas de teclado Casio que eu adoro. No palco da final do Microfonia, a Ju poderia ter se soltado mais, sua performance foi fraquinha… Uma vez ou outra, para você ter uma idéia do que eu estou falando, o guitarrista Paulista roubava a cena. E se a Ju não se juntasse a ele, corria o risco de se ofuscar. A versão disco-punk que a banda fez para “100%” do Sonic Youth, salvou a apresentação. O show, no entanto, não foi quente. Também não foi frio. Foi morno. Deu a banda a terceira colocação. /// Se houve uma atração da noite que foi mais uma vítima daquela discussão boba no que diz respeito a uma banda recifense ter um som mais ou menos parecido com o que se anda fazendo lá fora, foi THE KEITH. Ok, parece mesmo. Esse quarteto é basicamente uma fusão de Arctic Monkeys com Kinks com Vines: aquela esperteza de unir o que de melhor foi feito no rock dos anos 60 com algumas novas referências. Sem falar do visual aludindo aos Strokes, mas sem esse lance de querer parecer uma banda gringa no lugar errado. Faixas como “Lunatic Moon” e “Atomic Rainbow”, que foram calorosamente recebidas pela platéia, não me deixam mentir. “Substitute”, o cover do Who, também arrancou berros entusiasmados da galera, ou seja: segundo lugar. /// A concorrente mais esperada da noite foi sem dúvida JOHNNY HOOKER & CANDEIAS ROCK CITY. Confortante ver que a performance à la Brian Slade (Velvet Goldmine) do vocalista Johnny deixou a platéia bem entusiasmada, e o repertório do show, obviamente, também agradou os jurados. Iniciaram com “Candeias Rock City” (?), uma potente pedrada que lembra os acordes da clássica “Virginia Plain” do Roxy Music. Uma boa referência, mas melhor ainda é a música em si, uma energia sonora crescente que no ápice explode num refrão que te faz querer cantar junto e levantar os dois braços pro alto. Um hit. Por falar em hit, o grupo não apenas manteve a estética glam como também a sonoridade, isto é, tocou o hino “Rebel Rebel” do camaleão do rock David Bowie e levou o prêmio tão desejado. Além das quatro concorrentes, o evento contou com shows extras de duas revelações das edições anteriores: 1) Que Monomotores que nada: muitos não entenderam por que não chamaram a Monomotores, já que essa foi a campeã do Microfonia em 2006 e não a Sweet Fanny Adams. Monomotores não fez por merecer depois de vencer o concurso. Aliás, o grupo ainda existe? Três integrantes já deixaram ele, não? Enquanto isso, o SFA não parou quieto e, ainda em 2008, se apresentou no APR, Bananada, Calango, MADA, Festival Mundo, além de fazer show em Brasília e outros lugares do Brasil. Na Nox, a banda estava um pouco desanimada. Isso é fato. E assim foi nas duas primeiras músicas do set, “Pretending” e “She Want’s”. O bom é que a banda está apostando numa “onda” mais shoegaze, com excelentes distorções e ruídos de guitarra. ”Hate Song”, definitivamente uma das músicas mais radiofônicas da banda, foi um dos destaques. E surpresas não faltaram na apresentação do SFA como foi o caso de “April Skies”, o cover do Jesus and Mary Chain. Para mim, o melhor momento do show. 2) O pós-Los Hermanos e Strokes: Ganhadora da primeira edição do concurso Microfonia, em 2004, a banda Volver continua com a mesma vibe do início da carreira, sim, rock básico, meio pampa, mas agora com influências de Strokes e Los Hermanos, com um pé mais nos anos 60. Assisti o show extra que fizeram na final do Microfonia, com a cabeça a mil. Tocaram canções antigas como “Você Que Pediu” e “Mister Bola de Cristal”, e novas como “Dia Azul”, e isso parecia óbvio, mas o público sentia-se à beira do desonhecido. Era como se um enorme território novo se abrisse, de repente, diante de seus olhos, gerando ao mesmo tempo, fascinação e familiaridade. Para mim, entretanto, o tempo de duração do show poderia ter sido menor. Mas isso não significa que eu achei a apresentação da banda Volver ruim, apenas mais uma de tantas outras que já vieram e que ainda vão vir.

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