Torne seu edifício ecológico
Para tornar um edifício ecológico, não basta separar em casa o lixo orgânico do reciclável. A transformação inclui economia de energia com a instalação de painéis solares para aquecer a água do chuveiro, da piscina e até da pia. Da cozinha? Sim, já há prédios com água aquecida por fontes renováveis na torneira destinada à lavagem dos pratos. O aproveitamento da água de chuva também faz um edifício menos impactante, pois reduz a pressão sobre o aqüífero subterrâneo e poupa a água dos rios. A água, quando tratada, serve para beber. Natural, se destina à irrigação das plantas e lavagem de carros. É o que mostra a matéria de Verônica Falcão que marca o início, hoje, da Semana do Meio Ambiente. A captação da água que cai no telhado, comum na região Semiárida, começa a ser um prática também adotada no Litoral. Não que na região costeira chova pouco. Pelo contrário: o índice pluviométrico chega a ser três vezes maior que o do Sertão. A razão é a conservação ambiental. Usar água de chuva significa poupar água dos rios e reduzir a pressão sobre o aquífero subterrâneo. E, claro, economizar com a conta da Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa). No Le Grand Village, em Boa Viagem, Zona Sul do Recife, toda a chuva que cai numa área coberta de 2.270 metros quadrados, nos setores de uso comum do condomínio, é recolhida. O sistema foi implantado em 2003, para uma experiência de recarga do aquífero realizada pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Hoje abastece um reservatório com 100 metros cúbicos. A água, após filtrada, passa por um tratamento químico. “Isso elimina riscos de contaminação por restos de folha ou até animais mortos que possam se acumular no telhado. Dessa forma, se torna uma água potável”, afirma Carlos Henrique Leitão, da empresa Hidrosystem, que presta serviço para o condomínio. A única ressalva do empresário é se a tubulação, no lugar de PVC, for de cobre. “Nesses casos pode haver acidificação da água. Mas isso também é corrigido com tratamento.” O professor Abelardo Montenegro, que participou da experiência no Le Grand Village, considera a captação de água de chuva uma solução para o problema das enchentes na cidade. “Quando um imóvel recolhe essa água, se faz economia e se impede que ela se transforme num recurso perdido”, explica o engenheiro civil, vinculado ao Departamento de Tecnologia Rural da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Na opinião do pesquisador, o poder público devia incentivar o aproveitamento da água da chuva. “Se gasta muito para tratar e distribuir a água dos rios. Reduzir o consumo desse tipo de recurso com a inclusão de outras fontes significa economia. Na Europa já existe legislação que incentiva a coleta da água pluvial. Aqui poderia haver uma dedução do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano), por exemplo”, cita. Outra forma de economizar o bolso e a natureza é, no lugar de eletricidade, usar a energia do sol para aquecer a água. Foi o que fez o condomínio do Edifício Porto dos Corais, em Jaboatão dos Guararapes, ao sul do Grande Recife. Ainda na construção, cinco anos atrás, foi instalado o sistema de placas solares. A água aquecida desce pela tubulação que abastece os chuveiros e a pia da cozinha. “A água morna ajuda remover as gorduras. Assim a gente economiza detergente, a maioria não biodegradável”, defende o síndico Flavio Mostart. O reservatório de água aquecida, com capacidade para 15 mil litros, fica acima de uma caixa-d’água. “À medida que o de baixo vai esvaziando, a água morna entra por gravidade”, afirma o síndico do prédio, localizado na Avenida Bernardo Vieira de Melo, em Candeias. Um sistema complementar, a gás, fica de reserva para os dias de chuva, em que a água aquecida pela energia solar não é suficiente. O sistema foi implantado pelo engenheiro Carlos Salviano, com mais de 15 anos de experiência no setor. “A demanda está cada vez maior. Antes a maioria dos clientes era de hotéis. Hoje há muitos condomínios horizontais e verticais cujos moradores estão preocupados não só com economia, mas também com o meio ambiente.” Embora aquecer água por energia solar e aproveitar a água da chuva sejam soluções que tornam os edifícios ecológicos, o mais comum, por enquanto, é a coleta seletiva do lixo. Duas entidades, uma pública e outra da sociedade civil prestam o serviço no Recife. O coordenador da ONG Edifício Ecológico, Mark Burr, contabiliza mais de 40 prédios em que implantou a separação dos resíduos orgânicos dos recicláves. Um deles é o Edifício Vilaverde, em Casa Forte. Em cada corredor há um balde de 60 litros e outro de 30. Os moradores são orientados a colocar no menor restos de comida e no maior o, vidro, papel e metal. “Não dá trabalho nenhum”, atesta a babá Nádia Maria de Lima.